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Carnaval no Rio: O que é preciso para realizar a festa com segurança em 2022?

Cortejo do bloco do Céu na Terra, no bairro de Santa Teresa, em 2020 Foto: Agência O Globo/Divulgação

Médicos sanitaristas dizem que é fundamental avançar com vacinação nos outros municípios do estado e exigir garantia de imunização de turistas a partir do réveillon: ‘Rio não é uma ilha’

RIO – A alta taxa de vacinação e os índices baixos de contágio e hospitalização por Covid-19 no Rio dão otimismo aos adeptos da maior festa da cultura brasileira. Além de promover um ambiente de celebração da vida, o que seria bem-vindo depois de dois anos de pandemia, o carnaval é um motor da economia local, fonte de renda essencial para milhares de pessoas. Porém, a provável circulação de turistas brasileiros e estrangeiros não vacinados gera preocupação. Não faz sentido celebrar a vida se a festa gerar uma onda de mortes. Então, o que é preciso?

O médico Roberto Medronho, professor titular de Epidemiologia da UFRJ, diz que, hoje, os indicadores na capital fluminense inspiram segurança. Não há filas para internação, e a média móvel de óbitos causados pela doença está zerada. A taxa de contágio está em 0,76 (abaixo de 1, mas o ideal é 0,5) e a parcela da população acima de 12 anos com esquema vacinal completo chega a 90%. Porém, neste assunto reside uma questão primordial:

– O Rio não é uma ilha. A campanha de imunização na cidade atingiu níveis elevados, mas o carnaval atrai pessoas do mundo inteiro. Então, precisamos saber se esses turistas estão vacinados. Se houver carnaval, as autoridades devem trabalhar para que restaurantes, hotéis, aeroportos e rodoviárias exijam um certificado de imunização completa – afirma Medronho. – O governo federal é contra cobrar o passaporte vacinal dos passageiros nos aeroportos, mas isso é algo que diversos países fazem justamente porque é fundamental para a redução de riscos.

Sem folia: a pernalta Raquel Potí, que todos os anos desfila sobre pernas de pau em diversos blocos de rua do Rio, faz uma performance solo na Cinelândia, na sexta de carnaval sem desfile dos tradicionais blocos, por conta da pandemia Foto: Guito Moreto / Agência O Globo/Divulgação

Para o sanitarista Hermano Castro, pneumologista e pesquisador da Fiocruz, ex-diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), é urgente avançar na vacinação de outros municípios do próprio Estado do Rio.

– As taxas de vacinação no Estado do Rio são muito heterogêneas. Enquanto a capital já atingiu 90%,  há cidades com índices ainda baixos, o que se torna mais preocupante no carnaval, por causa da circulação e das aglomerações de pessoas sem uso de máscara – afirma Castro. – Para se ter segurança, precisamos de 80% da população de todo o estado vacinada de forma homogênea. Também é importante começar logo a imunização de crianças, para afastar qualquer risco. São realidades possíveis de alcançar até fevereiro, mas é preciso acelerar.

Segundo um boletim divulgado no último dia 20 de novembro pela Secretaria Estadual de Saúde, 40% dos municípios do Estado do Rio ainda não imunizaram completamente nem metade de suas populações. Em Paraty e São Fidelis, por exemplo, apenas 20% dos moradores tomaram as duas doses ou a dose única da vacina. Além disso, cidades da Região Metropolitana, como Duque de Caxias (45,4%) e Itaboraí (41,4%) ainda têm muito trabalho a fazer para proteger seus moradores e impedir que eles levem o vírus para outros municípios caso decidam viajar entre o fim do ano e o carnaval.

O réveillon, aliás, deve ser fonte de preocupação. A festa da virada, que pode levar mais de um milhão de pessoas à Praia de Copacabana, vai ser um teste para o carnaval. Ambos os eventos atraem gente de países onde o número de casos de Covid-19 está subindo, em grande parte, por causa do negacionismo antivacina. A Europa já lida com uma quarta onda da doença, e mesmo países com altas taxas de imunização, como Portugal, voltaram a adotar medidas restritivas. De acordo com o pneumologista da Fiocruz, será necessário acompanhar o impacto das festas de fim de ano.

– Correto seria se aeroportos, hotéis e o Airbnb cobrassem certificados de vacinação dos turistas, tanto os domésticos quanto os internacionais, já no réveillon. A grande maioria das hospitalizações e mortes acontecem entre pessoas que não estão vacinadas. Então, existe um risco de a festa da virada causar um aumento no número de internações em meados de janeiro. Este eventual acréscimo pode ser passageiro, uma vez que ficaria restrito aos não-vacinados. Mas será preciso monitorar essa evolução para determinar os riscos em fevereiro – diz Hermano Castro.

A pedido da Comissão Especial de Carnaval da Câmara de Vereadores do Rio, a Fiocruz e a UFRJ divulgaram, em outubro, uma nota técnica que lista cinco indicadores para a realização de um carnaval seguro. Entre eles, estão a necessidade de uma média móvel semanal menor que 110 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), fila de espera para internação de três pessoas ou menos por dia; taxa de positividade de testes diagnósticos menor que 5%, índice de contágio menor que 1 (0,5 seria o ideal) e nível de imunização de ao menos 80% da população no Estado do Rio e no Brasil.

Sem desfile, mas colorida: a Marquês de Sapucaí, palco do maior espetáculo carnavalesco do mundo, recebeu uma iluminação especial para homenagear as vitímas da Covid-19 neste carnaval sem folia Foto: ANDRE COELHO / AFP / Divulgação

– Hoje, os índices na cidade do Rio estão sob controle, mas não sabemos o que vai acontecer até fevereiro. O carnaval é um momento mágico que todos queremos. Os níveis de ansiedade e depressão estão altíssimos, as pessoas querem e precisam celebrar. Mas, antes de ser a favor do carnaval, eu sou a favor da vida e da ciência. Portanto, se a pandemia recrudescer, sem chances – diz Medronho. – E, mesmo com todas as precauções, não vamos chegar a risco zero. Portanto, se houver carnaval, é provável que observemos algum aumento no número de casos depois. É um debate ético que a sociedade precisa travar. 

O maestro Kiko Horta, um dos responsáveis pelo tradicional Cordão do Boitatá, explica que os organizadores do bloco já planejam o carnaval do ano que vem, mas “com um olho no padre e outro na missa”. Ele nem cogitou ir para a rua em fevereiro deste ano e criticou as pessoas que lotaram os espaços públicos para festejar num momento crítico da pandemia, com pouca gente imunizada e altos índices de contágio. Agora, o cenário é outro, mas Horta não descarta cancelar tudo, caso, lá na frente, os especialistas em saúde pública digam que não existem condições seguras para se fazer o carnaval.

– Estamos com a Fiocruz. O nosso carnaval está em pauta, queremos muito encontrar as pessoas, promover esse momento de alegria e de celebração da vida depois de tanto sofrimento. Mas não vamos fazer nada contra a ciência – pondera o músico, que esteve na última reunião da Comissão de Carnaval da Câmara, presidida pelo vereador Tarcísio Motta (PSOL). – Estamos otimistas por causa da situação atual no Rio, mas não podemos cair no negacionismo lá na frente.

A Praça Cazuza, no Leblon, esteve lotada a noite inteira desta segunda Foto: Luiza Moraes / Agência O Globo/ Divulgação

O GLOBO

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