A iminente possibilidade de aquisição da Gol pela Azul tem gerado ampla discussão entre especialistas do setor aéreo, dada a complexidade e as possíveis consequências dessa operação no mercado. Essa fusão, caso se concretize, poderia levar a uma concentração significativa de operações em determinados aeroportos sob uma única companhia, alterando profundamente o panorama competitivo do setor.
Especialistas expressam preocupação com o potencial aumento no valor das passagens e a redução na oferta de assentos, impactos que poderiam afetar diretamente o consumidor. A fusão, ainda pendente de aprovação por órgãos reguladores, é vista como um teste para as políticas de defesa da concorrência, visando prevenir a formação de um monopólio que poderia prejudicar a livre escolha e os preços acessíveis aos passageiros.
Márcio Holland, professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, realizou um estudo detalhado sobre os possíveis cenários pós-fusão. Seu trabalho aponta para uma preocupante concentração de mercado, com aeroportos como Confins (MG), Recife (PE) e Galeão (RJ) operando quase que exclusivamente sob a bandeira da nova empresa, detendo, respectivamente, 88%, 84% e 81% de todos os voos. Holland destaca o risco de transtornos significativos para a população dessas localidades, caso a empresa dominante enfrente problemas operacionais ou financeiros.
A diferença nos modelos de negócios entre Azul e Gol sugere um provável aumento nos preços das passagens. Com a Azul operando com tarifas médias 24% superiores às da Gol, a fusão poderia levar a um aumento ainda maior nos custos para os passageiros, além de uma possível redução na oferta de assentos, visando evitar a sobreposição de voos nas mesmas rotas.
Além dos impactos imediatos para os consumidores, Holland também aponta para possíveis demissões na Gol e um aumento de receitas para a Azul que não necessariamente se traduziria em benefícios para os passageiros. A fusão daria à Azul uma participação de mercado superior a 60%, um salto significativo em relação à distribuição atual, onde Latam lidera com 37,8%, seguida por Gol com 33,3% e Azul com 28,4%.
A análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) será fundamental para avaliar os impactos dessa fusão, considerando não apenas a participação de mercado das empresas, mas também as implicações para a concorrência e os consumidores. Luciana Martorano, advogada especialista em direito concorrencial, enfatiza que a operação será minuciosamente avaliada sob a ótica da complementaridade e sobreposição das rotas operadas pelas duas companhias.
Em meio a essas discussões, as empresas envolvidas – Azul, Gol e Latam – preferiram não comentar sobre a fusão e seus possíveis efeitos. O desfecho dessa operação é aguardado com grande expectativa, dada sua capacidade de redefinir o mercado aéreo brasileiro, tanto para os consumidores quanto para a dinâmica competitiva entre as companhias.
Alessandra Lontra