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Rio lançará projeto para se tornar o primeiro polo de nômades digitais na América do Sul

As amigas Yandressa Karine, Mariana Nakaie e Ana Bei no horário de trabalho: surfando, elas viraram nômades digitais Foto: Leo Martins / Agência O Globo/Divulgação

Na lista de desejos da capixaba Yandressa Karine, de 31 anos, os presentes que ela se daria de aniversário ano passado seriam um fusca ou aulas de surf. O home office da pandemia facilitou a escolha: em setembro, ela pegou as malas e foi para Itamambuca, um paraíso das ondas em Ubatuba, no litoral de São Paulo. O que seriam cinco dias viraram três meses de viagem, sem abandonar as tarefas profissionais: era a virada de chave para conhecer amigas e, junto com elas, transformar-se numa nômade digital. O atual porto da jovem, que atua num projeto de sustentabilidade socioambiental, é o Rio, cidade que se lançará agora como primeiro polo da América do Sul para esse tipo de turismo, uma tendência mundial que o “novo normal” fortaleceu.

O estilo de vida adotado por Yandressa explica bem qual é o conceito: hospedada de frente para o mar no Longboard Paradise Hostel, na Praia da Macumba, ela une o trabalho remoto ao lazer, sem a necessidade de estar de férias ou na correria de um fim de semana para viajar. O programa para atrair quem chega com essa vibe — e que quase sempre permanece mais tempo, tornando-se quase um morador temporário — será lançado em meados de junho, pela prefeitura e pela Riotur. E tem slogans irresistíveis para quem sonha com a Cidade Maravilhosa. “Seja carioca o tempo que quiser” ou “Trabalhe do Rio para o mundo”.

As nômades digitais Yandressa Karine, Mariana Nakaie e Ana Bei no Longboard Paradise Hostel, no Recreio: vivendo como cariocas Foto: Leo Martins / Agência O Globo/Divulgação

Os planos, explica Daniela Maia, presidente da empresa de turismo municipal, são de que o Rio ofereça a infraestrutura considerada básica a um nômade digital. Proposta que envolve preparativos de todo o setor, da hotelaria aos cafés e restaurantes.

— Acesso à internet de qualidade é indispensável. Previsibilidade do que vamos encontrar, como dicas de transportes e infraestrutura de saúde e de comércio, também é importante — enumera Yandressa, que afirma estar apaixonada pela Praia da Macumba. — Já tinha vindo à cidade, mas descobri um novo Rio. Aqui, eu me sinto segura de ir à praia. Acordo de manhã, olho o mar e decido se vou surfar antes do trabalho, na hora do almoço ou depois do expediente.

Pacotes promocionais e debate sobre vistos

Com o objetivo de atender às novas demandas que surgem, o Rio terá um portal na web com informações voltadas aos nômades. Hotéis, hostels e espaços de coworking também aderiram à iniciativa. A ideia é ter pacotes para o turista de longa permanência, incluindo descontos em hospedagem e serviços como lavanderia. Deve ser iniciada ainda uma discussão sobre a possibilidade de vistos estendidos para estrangeiros que desejem vir para o país e trabalhar para suas empresas mundo afora.

— É para todos os bolsos, do mochileiro ao cinco estrelas. Pensamos atrair primeiro quem está em São Paulo, Belo Horizonte ou outra cidade do país, num apartamento fechado, para vir trabalhar do Rio e ser um carioca por um, dois meses… O próximo passo é trazer o estrangeiro, da América do Sul, Estados Unidos, Europa e, por fim, Ásia — afirma Daniela Maia, apontando onde o Rio leva vantagem.— O nômade digital quer ter experiências na cidade, viver como um nativo. E o Rio é o maior astral. Você não precisa ter milhões para ir à praia ou ao boteco, praticar esporte e conhecer pessoas.

Com o projeto, o Rio se junta a outros destinos que já apostam no nomadismo digital, como Bali, na Indonésia, Lisboa, em Portugal, e Tbilisi, capital Geórgia, que tem, inclusive, uma vila de nômades que pode servir de inspiração futura ao Rio, diz Daniela.

No ranking mundial

No caso carioca, mesmo com investimentos apenas começando, a cidade já aparece com a 14ª melhor do mundo para esse tipo de turismo, segundo ranking elaborado pelo Club Med, baseado em oito fatores, como custo de vida, quantidade de atividades disponíveis e velocidade da internet. Na lista liderada por Phuket, na Tailândia, e por Ho Chi Minh, no Vietnã, a pior nota do Rio é em segurança. A melhor, em diversão.

Mas, a depender de Yandressa e das amigas, o Rio tem tudo para pontuar melhor. Coordenadora de uma equipe de análise de dados, Ana Bei, de 30 anos, já até entregou o apartamento onde morava, em Curitiba. Já a paulistana Mariana Nakaie, de 28, tem uma empresa de produtos naturais, mas conta que não pretende voltar para o escritório. As três têm uma lista de próximos destinos, que inclui Florianópolis, em Santa Catarina, e Pipa, no Rio Grande do Norte. E determinaram: sempre que puderem, voltam ao Rio.

— Achava que, para ter uma vida nômade, só seria possível na Europa. Agora, sei que posso tê-la aqui — diz Ana Bei, que conta quando o surf e o nomadismo digital mudaram sua vida.— Fazia pouco tempo que eu tinha ido morar sozinha. Gostava de independência que eu tinha. Então, veio a pandemia. Fiquei doente, tive uma crise de gastrite muito forte. Ali despertou a ideia de que eu precisava sobreviver vivendo. Veio a decisão de ficar mais perto do mar e uma viagem surfando por Santa Catarina. Numa primeira vinda ao Rio, em março deste ano, tive a certeza de que precisava me tornar mais nômade.

O volume que ela tem de trabalho não mudou. O que modificou por completo foi o cenário em que mantém suas atividades e o que ela pode fazer quando tem tempo livre. No próximo feriado, por exemplo, Ana Bei vai para a Ilha Grande. Só não estenderá o passeio porque teme que o sinal de internet no paraíso da Costa Verde fluminense não seja o melhor para a rotina de reuniões que tem.

— Como não tem sinal bom, bloqueado — conta ela.

Sua amiga Mariana está num ano sabático do comando de sua empresa. Mas também tem uma agenda de tarefas on-line a cumprir: ela faz uma série de cursos a distância, com o objetivo de aprimorar as possibilidade de se manter sempre em trabalho remoto.

— Vivi um período de crise de ansiedade. Precisava desse tempo — diz Mariana, que já incorporou o estilo de vida carioca. — Se as ondas não estão boas para surfar, corro até a Prainha e Grumari, ando de skate no calçadão… No hostel, as pessoas são abertas a conversar, trocar experiências. Acabo me sentindo em casa.

O Globo

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