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Turismo em colapso é o resultado direto da falta de planejamento

Projeto Ordena Brasil - Imagem: Divulgação

Há tempos o turismo é vendido como um símbolo de desenvolvimento econômico, geração de empregos e valorização cultural. Mas a realidade que se impõe em destinos do Brasil e do mundo mostra um cenário alarmante: o modelo atual, baseado em promoção desenfreada e ausência de ordenamento, está colapsando. E quem mais sofre com isso são os moradores dos territórios turísticos.

Foto: Divulgação

A COP30 escancarou a contradição. Um evento que deveria debater sustentabilidade e justiça climática está sendo inviabilizado para milhares de pessoas por causa da elitização dos meios de hospedagem. Como incluir as comunidades na pauta ambiental se elas não conseguem nem permanecer nos próprios territórios?

Nos últimos dias, o setor voltou aos holofotes, mas por motivos que deveriam envergonhar autoridades e gestores: superlotação em áreas de conservação, acidentes fatais por falta de fiscalização, explosão no custo de vida e preços abusivos praticados durante grandes eventos, como o escândalo da COP30 em Belém, onde pacotes de hospedagem chegaram a R$ 170 mil. A quem serve esse tipo de turismo?

Overtourism em Barcelona – Foto: Divulgação

A crise é estrutural. Estamos assistindo a um processo de expulsão silenciosa dos moradores em nome de uma falsa prosperidade. Destinos como Jalapão (TO), Chapada dos Veadeiros (GO), Fernando de Noronha (PE) e diversas praias do Sul e Sudeste já sentem os efeitos do overtourism. E o Brasil está apenas reproduzindo um fenômeno global: cidades como Veneza, Barcelona e Santorini já implementam medidas restritivas para conter o avanço descontrolado do turismo e proteger suas comunidades.

A especulação imobiliária avança, impulsionada por um turismo desconectado da realidade local e pelo crescimento desordenado de locações de curta duração em plataformas como o Airbnb. Moradores tradicionais perdem o direito à permanência e à dignidade. A identidade comunitária se fragmenta. O turismo, que deveria ser vetor de inclusão e pertencimento, está virando sinônimo de exclusão e desagregação.

Acidente com balão, em Santa Catarina (SC) – Foto: Divulgação

E quando falamos de segurança, a negligência salta aos olhos. O acidente com balão em Santa Catarina, que matou oito pessoas, foi o pior dos últimos dez anos. Não havia estrutura para resgate, nem protocolos públicos eficientes. Poucos dias antes, uma brasileira morreu em uma trilha no Monte Merapi, na Indonésia, por suposta negligência da agência. E mais: outro acidente com balonismo na Capadócia deixou um morto e mais de 30 feridos. O que esses episódios revelam? Um setor onde a aventura vale mais do que a vida.

Brasileira Juliana Marins perde a vida num acidente na Indonésia – Foto: Divulgação

E em um caso que comoveu o país, a brasileira Juliana Marins, de 26 anos, faleceu durante uma trilha ao Monte Merapi, um vulcão ativo na Indonésia. Juliana caiu em uma cratera durante a excursão e não resistiu. Familiares denunciaram falta de preparo da agência e demora no resgate.

Ao invés de protegermos o turismo como ferramenta de transformação, estamos permitindo que ele seja explorado como produto de massa, precarizado, sem regulamentação nem controle social. E o pior: com políticas públicas que priorizam a propaganda em vez do planejamento.

A resposta do Projeto Ordena Brasil é clara: não basta promover o turismo, é preciso ordenar. E ordenar não significa impedir, travar ou censurar. Significa construir um modelo estruturado, respeitoso com os moradores, atento às limitações ambientais e centrado nas pessoas, e não nos lucros a curto prazo.

Nossa proposta inclui zoneamento turístico, definição de capacidade de carga, regulamentação de atividades de risco, qualificação dos prestadores de serviço, valorização da produção local e participação comunitária ativa na gestão dos destinos. O turismo só será sustentável se for socialmente justo e seguro para todos.

Ainda há tempo de reverter esse quadro. A maioria dos destinos brasileiros ainda vive picos de saturação apenas em épocas específicas. Mas se não houver ação coordenada agora, em pouco tempo repetiremos os mesmos erros que levaram grandes ícones internacionais do turismo ao colapso.

Turismo não é vitrine. É território vivo. E território se cuida com planejamento, com diálogo e com coragem. O que está em jogo não é apenas a imagem do Brasil como destino turístico. É o futuro de comunidades inteiras, de modos de vida tradicionais, de ecossistemas frágeis e da nossa própria capacidade de transformar o turismo em uma ferramenta de pertencimento, e não de destruição.

Chega de tapar o sol com a lona do balão.

Maicon Dimbarre e Fernanda Tainã Castro
(Idealizadores do Projeto Ordena Brasil)

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