Muros, caixas d’água, fachadas e empenas se tornaram telas nas mãos dos artistas que participam do Festival Colora, iniciativa da Prefeitura de Aracaju, por intermédio da Fundação Cidade de Aracaju (Funcaju), que tem levado cor e arte às ruas da capital.
Os artistas que participam do Colora foram selecionados no edital Janelas para as Artes, idealizado para aplicação da Lei Aldir Blanc em Aracaju. Entre as modalidades contempladas pelo festival, é possível citar a pintura, o mosaico e a colagem, mas, sem dúvida, o grande destaque foi o grafite, essa expressão que surgiu para ocupar o espaço urbano, democratizando o acesso à arte.
“O grande lance da arte urbana é que as pessoas deixam de se sentir meras expectadoras e passam a ser participantes ativas da arte”, destaca Valter Obará, diretor administrativo do Complexo Esportivo Dona Finha, localizado embaixo da ponte no Bairro Industrial, e um dos idealizadores da I Jornada Nordeste de Grafite, um dos eventos que compõem a programação do Festival Colora.
Entre os dias 4 e 7 de março, dez artistas de Sergipe e dos estados vizinhos fizeram intervenções em grafite nas pilastras da ponte, com temas que foram da valorização de personalidades locais, como Zé Peixe, até a tolerância religiosa e o combate à violência contra as mulheres.
Segundo Obará, a ideia para reunir os grafiteiros surgiu de forma muito natural. “Nós, da cultura urbana, do movimento hip hop, trabalhamos sempre com o apoio mútuo. E a Lei Aldir Blanc veio para impulsionar isso, em um momento tão difícil para todos, em especial para os artistas, que tiveram a renda comprometida por causa da pandemia”, relata.
Desde 2016, o Complexo Dona Finha vem sendo transformado em um centro de arte urbana, com intervenções de grafite e sediando práticas esportivas e culturais ligadas ao movimento hip hop. “As pessoas passam por aqui e tiram foto, é uma grande galeria de arte urbana em Aracaju. A nossa intenção é ampliar o envelopamento da ponte, com a pintura do teto, para que se torne referência mundial de arte urbana”, descreve Obará.
Valter Duarte, professor e presidente do Centro Cultural, Artístico e Esportivo Punhos de Ouro, instituição responsável pela administração do Complexo Dona Finha, conta que a jornada de grafite foi organizada pensando na importância desse intercâmbio cultural. “Além dos artistas do estado, recebemos artistas de Pernambuco, da Bahia, cada um com seu estilo, livres para criar o que quisessem e deixar sua marca aqui no complexo”, enfatiza.
Os grafites feitos durante o festival agradaram os visitantes e os moradores do entorno. Gabriel Santana, auxiliar de cozinha e skatista, é frequentador assíduo do local. Para ele, o espaço remete a arte, a cultura de rua, é o Brooklin sergipano, então o Festival Colora só veio agregar ainda mais ao local. “Como aracajuano, quero ver mais iniciativas como essas na cidade, porque dá orgulho de mostrar a arte do grafite, que abre uma janela para os jovens terem outra visão de vida”, comenta.
O motorista Joselito dos Santos destaca a importância do complexo, principalmente para os jovens, que se reúnem no local para praticar esportes. “A arte nas paredes deu um diferencial muito grande ao espaço, ficou muito bonito. Que tenham mais iniciativas como essa, porque quanto mais, melhor”, considera.
Grafite e esporte
Outro espaço que ganhou novas cores foi a Estação Cidadania Radialista Carlos Magno, no conjunto Bugio. As paredes externas do ginásio receberam os grafites de Don Kob, que retrata jovens atletas com o traço característico do artista, em cores vibrantes que chamam a atenção de quem passa pelo local.
Segundo Don, a ideia do grafite surgiu a partir do espaço, para que agregasse mais ao ambiente e tivesse maior significado para as pessoas que frequentam o ginásio. “Até porque o esporte, além de proporcionar saúde, fortalecimento, agrega bastante na vida das pessoas”, conta.
Para o grafiteiro, a arte traz cor à cidade, levando alegria, boas sensações, reflexões. “No dia a dia, recebemos uma enxurrada de informações visuais, então o grafite vem como forma de aliviar, visualmente falando, todo esse excesso de informação que a gente recebe”, comenta Don.
Como artista, além da motivação criativa, Don pensa em como aquele grafite será recebido pelas pessoas. “A arte na parede passa muitas mensagens, então minha ideia é sempre atrair os olhares para gerar princípios favoráveis e de bom agrado para todos”, relata.
Don avalia que o Festival Colora é uma iniciativa diferente de tudo que teve antes, não só pela valorização e incentivo dos artistas locais com a Lei Aldir Blanc, mas também como forma de levar as produções dos artistas para a rua, mostrando aos aracajuanos como a cidade é rica em cultura, em arte, além de valorizar o grafite, que muitas vezes ainda é marginalizado. “Quando a arte vai para a rua, todo mundo sai ganhando”, avalia o grafiteiro.
A arte que Don deixou nas paredes da Estação Cidadania tem chamado a atenção dos moradores. Sasha Mirelly de Andrade, estudante e autônoma, conta que viu com curiosidade quando a obra estava sendo feita. Agora, que os painéis estão finalizados, considera que deu outra vida ao local. “Ficou lindo, é uma importante demonstração da arte. As pinturas relacionadas ao esporte têm tudo a ver com o ginásio”, destaca.
A dona de casa Ivanilde Melo lembra que antes a parede era toda branca, não chamava a atenção. “Agora, está essa lindeza, que só valorizou ainda mais o ginásio”. Segundo ela, é muito bom ver a arte pelo bairro. “O importante é cuidar e preservar para ficar sempre assim bonito”, considera.
Ascom PMA