Conhecido roteiro de peregrinação no país se torna aliado também para quem busca embarcar em uma jornada pela promoção da saúde
ão é de hoje que turismo e saúde caminham juntos. Afinal, quem busca uma viagem também procura momentos de descanso, relaxamento e a tão sonhada sensação de bem-estar, também ligada à autossuperação, àquele gostinho de “missão cumprida”. Neste mês de novembro, o Caminho da Fé, mais do que um importante roteiro turístico religioso do país, ganha um significado especial para um grupo de pessoas que vive com diabetes.
Novembro Azul é o mês mundial de combate ao câncer de próstata e faz referência à promoção da saúde do homem. Mas também marca uma campanha global em celebração à causa do Diabetes e ao seu Dia Mundial (14.11), buscando conscientizar a população sobre prevenção e complicações da doença, além de promover e estimular o acesso à educação sobre o tema.
A data serviu de inspiração para o ultramaratonista Emerson Bisan – que possui diabetes tipo 1 há 27 anos – criar a rota temática Caminho Azul, que percorrerá o trajeto do Caminho da Fé entre os dias 12 e 15 de novembro.
Bisan, que é educador físico com ênfase em pessoas com diabetes e membro do Instituto Correndo pelo Diabetes, coleciona a participação em 102 maratonas no Brasil e no exterior e, desde 2002, promove um passeio de 50 km em São Paulo (SP) para marcar o Dia Mundial do Diabetes, chamado Tour Azul. Neste ano, contudo, a proposta é ainda mais desafiadora: realizar um percurso de 110 km a pé, no Caminho da Fé, em meio à exuberante paisagem da Serra da Mantiqueira, saindo de Paraisópolis (MG) até a Basílica de Nossa Senhora da Aparecida, localizada na cidade de Aparecida (SP).
Voltado para pessoas com diabetes ou que convivem com alguém que tenha a doença, a caminhada de quatro dias tem o desafio de manter os níveis de glicose no sangue sob controle (ou com a menor variação possível). Apesar de ser mais conhecida por altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia), quem convive com a diabetes também precisa estar atento ao oposto, ou seja, níveis muito baixos de açúcar (hipoglicemia) que demandam o consumo de carboidratos/açúcar para normalizar as taxas.
“Convidamos alguns profissionais como médicos, enfermeiros e influenciadores com conhecimento em diabetes para estarem conosco num processo de peregrinação e interação temática no assunto diabetes e atividade física. A ideia é desmistificar, educar e incentivar as pessoas a fazerem atividade física com ou sem diabetes”, conta Bisan, que já possuía um trabalho de acompanhamento e assessoria a peregrinos pelo Caminho da Fé.
E para quem acha que é um desafio além da conta, Bisan contesta: “é possível e estou aqui para provar. A ideia é colocar algo desafiador sim, mas totalmente possível”.
E, claro, ao longo do percurso diversas experiências turísticas podem ser vivenciadas. “A gente ouve falar do Caminho de Santiago de Compostela, mas muitos não sabem que existe um caminho tão lindo aqui no Brasil. É uma coisa que é nossa, que tem uma beleza geográfica incrível, tem uma parte cultural, que é a parte religiosa e histórica de Minas Gerais e gastronômica, que é fantástica. E está bem perto”, aponta Bisan. Para saber mais acesse AQUI.
CAMINHO DA FÉ – O roteiro turístico é inspirado no milenar Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Nasceu há quase 20 anos (completará em 2023) com o objetivo de estruturar a rota percorrida por peregrinos com destino ao Santuário Nacional de Aparecida (SP), que recebe anualmente milhares de fiéis e turistas, principalmente por conta das celebrações de 12 de outubro, dia da Padroeira do Brasil: Nossa Senhora Aparecida.
Fé e devoção, histórias de gratidão, promessas, aventura, contato com a natureza, superação de limites e de desafios e autoconhecimento caracterizam o roteiro, composto por cerca de 2500 km. O trajeto, que pode ser percorrido a pé ou de bicicleta, inclui desde montanhas e trilhas a trechos urbanos, com asfalto.
Abrange 51 municípios do estado de São Paulo e 21 de Minas Gerais, cruzando a Serra da Mantiqueira entre os estados e possibilitando, também, uma vivência da cultura e um mergulho na história de cada cidade. Entre os municípios que integram o percurso estão, por exemplo, as paulistas Águas da Prata, Franca, Ribeirão Preto e Campos do Jordão e as mineiras Inconfidentes, Paraisópolis e São Sebastião do Paraíso.
Camila Bassi, gestora executiva da Associação dos Amigos do Caminho da Fé, que administra o roteiro, afirma que, apesar da motivação maior ser algum tipo de encontro religioso, como agradecimento, alcance de algum pedido ou mesmo devoção, a correlação entre o Caminho da Fé e saúde também é um dos atrativos do roteiro.
“Começamos a perceber que existem sim alguns movimentos de organização de grupos de viagem temática. Já tivemos grupo de mulheres que tinham enfrentado câncer de mama, pessoas com deficiência física que fizeram a viagem e que quiseram mostrar para o universo que é possível sim, e temos agora esse movimento de Novembro Azul para tratar essa questão do diabetes. Temos também [rotas temáticas] em terceira idade e um projeto [que está em desenvolvimento] que é trabalhar um caminho sensorial que vai atender o pessoal com deficiência audiovisual”, conta.
Apesar de desafiador, o Caminho da Fé é democrático. Para Camila Bassi, qualquer pessoa pode fazê-lo desde que queira. “O caminho tem muito disso de surpreender e encantar as pessoas. Elas nunca voltam pra casa do mesmo jeito que começaram a viagem, sempre voltam transformadas. O caminho é para todos”, declara. “O Caminho é uma ferramenta de saúde pública porque resolve questões de muita gente”, complementa.
Até 2021, 72 mil peregrinações foram registradas no Caminho da Fé, sendo 54 mil únicas, ou seja, pela primeira vez. Deste total, 44% percorreram o trajeto a pé e 56% de bicicleta. Só em 2021, foram 15.676 peregrinações e, neste ano, até outubro, foram mais de 18.570. Todo esse movimento, segundo Camila Bassi, também gera desenvolvimento econômico para a região.
“Nos últimos cinco ou seis anos, temos o dado de 32% ao ano de crescimento em fluxo de peregrinações e um crescimento proporcional da rede empreendedora, que são os pedidos de adesão ao cadastro da lista de prestadores de serviços nas comunidades por onde o caminho passa. Então, tem um aumento significativo do volume de negócios”, aponta Camila Bassi.
É possível encontrar grupos de peregrinos ao longo de todo o ano por meio do site do Caminho da Fé. Também dá para conferir se há mais pessoas iniciando o trajeto na mesma cidade e data programada ou mesmo percorrer o caminho guiado pela sinalização. E quem conclui o percurso pode receber certificado o Mariano, emitido pela Associação dos Amigos do Caminho da Fé. Para saber mais acesse AQUI.
REDETRILHAS – O Caminho da Fé deu início ao processo de inclusão na Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas). Trata-se de uma iniciativa dos ministérios do Turismo e do Meio Ambiente de apoio a construção e desenvolvimento de roteiros integrados que fortaleçam a conservação da biodiversidade e a conexão entre as mais diversas paisagens do Brasil.
Atualmente, seis trilhas de longo curso distribuídas em quase dois mil quilômetros já integram a RedeTrilhas: Trilha Transcarioca (RJ), Trilha Caminho de Cora Coralina (GO), Trilha Sucupira (MG), Trilha Caminhos da Serra do Mar (RJ), Trilha Transmantiqueira (MG) e Trilha dos Canyons (RS). Para saber mais, acesse AQUI e AQUI.
O ministro do Turismo, Carlos Brito, destaca o potencial do Brasil neste segmento e a importância de promover investimentos e estruturá-lo para atender a demanda turística. “O Brasil é reconhecido internacionalmente por reunir um dos maiores conjuntos de atrativos naturais do planeta, segundo o Fórum Econômico Mundial. Investir neste segmento, como temos feito por meio da RedeTrilhas e uma série de outras ações, é preparar o Brasil para atender a demanda, que já era crescente antes da pandemia e que tende a ser ampliada agora em todo o mundo”, afirma.
DIABETES – No mundo, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), cerca de 537 milhões de pessoas possuem a doença, caracterizada pela falta de insulina (hormônio produzido pelo pâncreas que controla a quantidade de glicose no sangue) ou pela incapacidade do organismo de utilizá-la adequadamente. No Brasil, são cerca de 15,7 milhões de adultos com diabetes, sendo o 5º maior país em incidência no mundo.
Existem diferentes tipos da doença, entre eles o gestacional, Tipo 1 e Tipo 2, sendo este último o que possui a maior prevalência, alcançando cerca de 90% das pessoas com diabetes. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a condição é caracterizada pelo quadro em que o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou mesmo não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia no sangue. Saiba mais AQUI.
MTur