por Alessandra Lontra
Criar um roteiro turístico parece fácil para quem olha de fora. Basta reunir lugares bonitos, encaixar na ordem mais prática e pronto. Mas essa visão simplista ignora tudo o que realmente transforma uma viagem em experiência. Roteirizar, quando feito com seriedade, não é desenhar caminhos em um mapa. É construir sentidos, costurar identidades e posicionar territórios com intencionalidade.
Quem atua no turismo sabe que um bom roteiro não nasce da vontade de agradar a todos. Ele surge de um processo profundo de escuta, pesquisa e articulação. É um trabalho técnico, que considera a vocação do destino, sua infraestrutura, a sazonalidade, a logística real, o perfil do público e até a maturidade da comunidade local para receber visitantes.
Por outro lado, o improviso ainda é um inimigo disfarçado de praticidade. Muitos roteiros são montados com base em achismos ou preferências pessoais. Agentes de viagem que nunca pisaram no território oferecem roteiros padronizados. Gestores públicos escolhem atrativos por pressão política e não por relevância turística. O resultado é um turismo superficial, que frustra o visitante e desgasta a imagem do destino.
Quando o roteiro é tratado como produto de divulgação e não como experiência estruturada, perde-se a chance de gerar impacto positivo de verdade. Atrativos desconectados entre si, horários mal planejados, ausência de narrativa e até a exclusão de protagonistas locais são sintomas de um turismo que não se compromete com o território.
Roteirizar é mais do que montar um cronograma. É ativar redes produtivas, valorizar saberes, garantir fluidez e coerência, respeitar limites e potencialidades. É criar pontes entre o que o lugar é e o que o visitante busca. Isso exige preparo técnico, sensibilidade e tempo. Não se faz um bom roteiro em dois dias, assim como não se constrói confiança em uma visita só.
Quando feito com profissionalismo, o roteiro turístico fortalece a economia, preserva patrimônios e conecta pessoas. Ele transforma deslocamentos em vivências, roteiros em memórias e destinos em referência. É por isso que cada passo no processo importa, da escuta inicial à última curva da estrada.
Quem entende de turismo não cria passeio, cria legado.
Alessandra Lontra é jornalista multimídia especializada em Turismo, mercadóloga e turismóloga provisionada pela ABBTUR. Com mais de 40 anos de atuação estratégica, é referência nacional em inovação no setor, com forte atuação em governança, roteirização, comunicação digital e inteligência artificial aplicada ao turismo. Lidera o portal Ale Lontra – Notícias em Movimento para um Turismo Além do Óbvio. www.alelontra.com.br.