A vida tem dessas surpresas que nos desarrumam por dentro.
Eu estava em São Paulo, no RD Summit, o maior evento de marketing e vendas da América Latina, imersa em conhecimento, encontros e inspiração, quando recebi uma mensagem que parou tudo ao meu redor. Era da querida Rose, da Sonata, tão guerreira quanto Rosana na defesa da APA de Tambaba. E foi justamente por meio da própria Rosana que nos conhecemos.
A notícia não era sobre um convite, uma ação de preservação, um protesto ou um novo sonho para Tambaba.
Era sobre despedida.
Nossa amiga Rosana Diniz havia partido para outro plano.
Custei a acreditar. Havíamos conversado em setembro…
Enviei um Whatsapp imediatamente para minha amiga e jornalista, Ana Célia Macedo, que foi quem nos apresentou em 2014. O choque foi mútuo. Depois, conversando com Nevinha, dos “Doces Tambaba”, veio a confirmação: foi um aneurisma. Os médicos tentaram, mas Deus a chamou. E eu só consigo imaginar que o céu a recebeu com festa, luz e abraços, porque a alegria dela era contagiante demais para chegar de mansinho.
Rosana tinha uma energia própria, daquelas que iluminam o ambiente.
Era riso fácil, era verdade, era conexão com a natureza.
Foi pioneira ao apresentar Tambaba para quem não praticava o naturismo, mostrando que o encanto daquele lugar ia muito além da nudez, era natureza, liberdade, essência e acolhimento.
Ela criou trilhas que fizeram história: pelas falésias, pela mata, pela praia… cada passo guiado com muito amor. Tambaba era seu mundo. Do lado do restaurante Arca do Bilú, que ela administrava com seu ex-companheiro de vida, o inesquecível Bilú, os encontros ganhavam sabor, histórias e novos amigos. Ele já havia partido há alguns anos, e agora Rosana.
Eu tive o privilégio de viver trilhas com Rosana e com a Ana Célia.
E como eram especiais! Ela atraía pessoas leves, do bem, apaixonadas pela natureza. No fim da caminhada, o destino era sempre o mesmo: o Arca do Bilú, com mesa farta, risadas e aquele sentimento de que todo mundo se conhecia há muito tempo.
Rosana era afeto na trilha, mas também era coragem quando o assunto era defender Tambaba.
Participava de reuniões, audiências e discussões com firmeza e amor. Nunca se intimidou diante de autoridades, instituições ou contrariedades. Ela ocupava os espaços que precisavam ser ocupados. Falava com propriedade, mobilizava, unia, lembrava o que era prioridade: a preservação da APA de Tambaba.
E como não lembrar da sua criatividade gostosa de viver?
Foi Rosana quem apelidou de “Shopping Rural” o sítio onde hoje estão os “Doces Tambaba”, de Nevinha. Um nome simples e genial, do jeitinho dela.
Rosana também tinha um carinho enorme pelos animais, especialmente pelas jiboias.
Cuidava, esclarecia, desmistificava. Ensinava moradores e visitantes a respeitá-las. Seu amor era tão grande que criou um bloco de Carnaval inesquecível: “Pega na Biluca”. A concentração era no restaurante Arca do Bilú e, entre gargalhadas, brincadeiras e abraços, descíamos a ladeira rumo à praia de Tambaba celebrando a vida, a amizade e a liberdade. Quem viveu sabe que aquilo ali era a essência dela.

Hoje, não posso estar fisicamente para o último adeus.
Mas estou em oração, com o coração entregue a Deus, pedindo que Ele a receba exatamente como ela recebia a todos: de braços abertos, com acolhimento, amor e verdade.
Rosana sempre me dizia que naturismo não era sobre nudez, e sim sobre respeito, ao outro, à natureza, aos animais.
Ela viveu isso todos os dias.
Tambaba é uma joia rara.
Falésias que parecem obra de arte, mar esmeralda, surf, trilhas, gastronomia, simplicidade e liberdade. É a primeira praia naturista oficializada do Nordeste e sedia o único campeonato de surf naturista do mundo.
Mas nenhuma descrição sobre Tambaba é tão poderosa quanto a forma como Rosana a apresentava: com alma.
Rosana, obrigada por tanto.
Por cuidar, por lutar, por aproximar pessoas, por educar, por acolher.
Você deixou sementes que já floresceram, e continuarão florescendo.
Aos amigos da Sonata, deixo um pedido sincero:
honrem o legado de Rosana Diniz.
Não deixem sua história se diluir no tempo.
Cuidem de Tambaba como ela cuidou, com amor, verdade, coragem e união.
Ela cumpriu lindamente sua missão.
Agora, é nossa vez de continuar.
Vai em paz, minha amiga.
Você agora é vento que toca as falésias, canto que ecoa na mata, brilho no mar e sorriso em cada trilha.
E enquanto houver Tambaba preservada… você estará lá.
Alessandra Lontra

