Era 1985. A guerra fria já havia acabado há algumas décadas. Mas a guerra das colas estava em alta e a disputa naquele momento era sobre quem chegaria primeiro à pequena estação que estava sendo construída no espaço.
Os “shuttles” subiam com grande frequência levando toneladas de equipamentos para ampliar a estrutura e receber tripulações para longas estadias por lá.
Foi então que os marqueteiros detectaram a oportunidade de levar suas marcas de cola mais longe que o concorrente. A disputa aconteceu durante o mês de Agosto e ficou marcado como a “Guerra Espacial das Colas”.
Partiu da Coca-Cola a iniciativa de pegar uma carona na missão Challenger para enviar uma latinha ao espaço. A empresa entrou em contato com a NASA com o objetivo de criar uma embalagem para viajar a bordo do shuttle.
Tecnologia colocou o design em segundo plano
Lembra da história de como escrever no espaço, onde os americanos desenvolveram uma avançada tecnologia para tinta sair da caneta e os russos resolveram o problema levando um lápis?
Neste episódio da historia do marketing a situação foi mais ou menos a mesma. No ambiente de microgravidade da órbita da Terra, foi necessário um mecanismo para “empurrar” o líquido para fora apenas na hora que o astronauta quisesse, evitando o vazamento, e a sujeira, dentro da aeronave.
A lata foi adaptada para conter um saco plástico laminado com a bebida e uma bexiga pressurizada com dióxido de carbono, que servia para impulsionar o refrigerante para a boca. Também foi incluído uma válvula metálica para impedir o vazamento do líquido. Quando a Pepsi soube dos planos da Coca-Cola, foi à NASA pedindo um “assento” nesta mesma viagem. A agência espacial não viu problema nisso, desde que a empresa desenvolvesse uma latinha a tempo do lançamento.
Enquanto a Coca investiu míseros US$ 250 mil na sua embalagem, a sua maior concorrente não teve alternativa e adotou um projeto em andamento, orçado em US$ 14 milhões, para adaptar uma nova lata, onde o dióxido de carbono não seria pré-pressurizado como o da Coca, sendo produzido por elementos químicos dentro do recipiente.
Correndo contra o tempo, o marketing da Pepsi passou por cima de sua área de design e colocou em órbita uma embalagem que mais parecia uma daquelas de chantilly, com menos tecnologia mas que ao menos estava lá.
O resultado
Latas embarcadas, ficou para a NASA a missão de oficializar o experimento. Mas a agência espacial americana não quis entrar na disputa e preferiu definir como uma “Avaliação de recipientes de bebidas carbonatadas” estabelecendo que a execução só poderia ser realizada em algum momento de pausa nos trabalhos dos astronautas que estavam lá para o estudo da física solar, atmosférica e astrofísica.
Alguns membros da tripulação também preferiram ficar fora do jogo e não participaram dos testes com as maiores marcas de refrigerantes da terra lá no espaço. “Achei que era irrelevante e negativo para o caráter científico da missão”, analisou recentemente o especialista no transporte de cargas da Challenger, John-David Bartoe, que, na mesma entrevista, admitiu seu arrependimento que acabou sendo o único sem experimentar.
O fato é que ele não perdeu muita coisa. Como não havia geladeira no ônibus espacial os tripulantes experimentaram as seis latas (três de cada marca) em temperatura ambiente.
De volta a terra Tony England, que estava em sua primeira missão, contou que, por serem carbonatadas, com a ausência da gravidade, as bolhas não saem do estômago
Afora o desconforto, tudo deu certo, nenhuma embalagem explodiu e a Coca-Cola declarou vitória na “guerra espacial das colas”, argumentando que a equipe testou sua lata antes de provar o produto da marca rival. “A Coca-Cola, primeira opção em refrescos em todo o mundo, é hoje o primeiro refrigerante degustado no espaço”, destacou um anúncio da época.
Ambas as empresas fizeram parceria com grupos educacionais para comemorar o primeiro lançamento de suas bebidas ao espaço. A Pepsi produziu réplicas de sua lata espacial para promover a organização Young Astronauts, enquanto a Coca-Cola licenciou o U.S. Space Camp para vender uma versão em plástico de sua lata, presenteando seus distribuidores e museus com duplicatas.
Após o embate a Pepsi não foi mais ao espaço. Já a gigante de Atlanta continuou tentando desenvolver uma bebida para astronautas. Em 1991 enviou sua lata para a estação espacial russa Mir, sem obter novos resultados.
Mais tarde criou duas versões de uma máquina distribuidora, que poderia ser usada para encher um copo pressurizado ou garrafa, enviando-as ao espaço na época em que os ônibus espaciais da NASA se encontravam com a estação espacial russa Mir, e depois para a tripulação da missão Endeavour, encerrando a primeira disputa comercial no espaço.
Promoview